Larissa Januário - 10/04/2008 - 16:56
Entrevistamos o delegado da unidade de repressão a crimes cibernéticos da Polícia Federal (PF), Carlos Sobral, para saber como é o dia-a-dia e como se especializam os agentes especializados em ciber crimes no Brasil.
Nos últimos quatro anos, a PF realizou cerca de 700 prisões por crimes cibernéticos resultantes de 34 operações. Segundo o delegado da unidade de repressão a crimes cibernéticos, Carlos Sobral, a Polícia Federal elaborou uma proposta para a instalação de uma unidade especializada em delitos eletrônicos em cada estado da federação. “Este tipo de crime está entre as prioridades para os próximos 15 anos apresentadas à Justiça Federal”.
WN: Quantos agentes especialistas em crimes eletrônicos há atualmente na PF?
Sobral: Hoje na área de investigação não há como identificar o número de especialistas em crimes cibernéticos que existem no País. Temos uma unidade em Brasília, onde há quatro pessoas especializadas. Essas pessoas coordenam os trabalhos que são realizados nas superintendências em todos os estados, que não necessariamente são organizados. Quando há investigação em estados onde não há estrutura, alocamos computadores e recursos para a investigação. A nossa proposta para o Ministério da Justiça é organizar esse pessoal e tornar isso permanente em cada estado.
WNews: Como funciona a investigação de crimes eletrônicos?
Sobral: Quem comanda a investigação é sempre o delegado da PF que conta com áreas de apoio. Caso ele ache necessário, pode requisitar a perícia especializada, além dos institutos de criminalística. Mas vamos criar uma área para investigação focada em crimes eletrônicos, com delegados e policiais especializados.
WNews: Há algum tipo de treinamento focado em ciber crime para os agentes atualmente?
Sobral: Há alguns treinamentos acontecendo pelo Brasil de agentes e delegados para capacitá-los para esse tipo de investigação. Eles adquirem noções de computação e aprendem como aproveitar vestígios deixados pela Rede, como operar softwares para isso e como usar a tecnologia em benefício da investigação. Mas ainda não existe um treinamento específico e formal na polícia para formar investigadores especializados.
WNews: Se não existe um treinamento formal, como há agente especializados?
Sobral: Nós convocamos alguns agentes que já têm alguma experiência na área de TI. Pessoas com formação em ciência da computação, análise de sistema, programação e processamento de dados, por exemplo, e que são investigadores. Mas há também o perito, que pode ser especialista em informática. Esse é um cargo diferente de investigador.
WNews: Qual a diferença entre os dois?
Sobral: O perito vai trabalhar na comprovação da prova, atestando sua autenticidade, como por exemplo, a comprovação de uma página Web. Ele dispõe de ferramentas especiais para a recuperação de dados de um HD que podem estar danificados ou criptografados e passa essas informações para o delegado, que é o investigador. O responsável por rastrear suspeitos na Rede, identificar IPs e descobrir o autor do crime é o delgado e a equipe de investigação, não o perito. Nós temos 140 peritos em informática.
WNews: Qual o status da proposta encaminhada ao Ministério da Justiça?
Sobral: O diretor geral da Polícia Federal encaminhou o documento ao ministério, enumerando as necessidades da PF, como o treinamento de agentes para enfrentamento de crimes cibernéticos e a necessidade de alterações na lei que facilitem o trabalho da polícia. Esse documento será avaliado também pelo ministério do planejamento porque demanda criação de cargos.
WNews: Quais são as alterações de lei propostas?
Sobral: Precisamos de agilidade no processo de investigação. Por exemplo, hoje é preciso uma ordem judicial para obter o número de um IP suspeito, isso acaba atrasando todo o processo e coloca em risco a perda de provas. Outro ponto importante é em relação aos provedores de Internet que não armazenam dados de usuários e, se armazenam, demoram a entregar à polícia.
WNews: Quais as expectativas com a aprovação dessa proposta?
Sobral: Aprovado esse novo regulamento, a academia deve treinar os agentes nos próximos concursos já com foco em TI. Se sair a proposta, a expectativa é ter 100 investigadores nas delegacias da PF distribuídas pelo Brasil.
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